A   R   G   O   S

Entrevista com o presidente do Conselho Oleícola Internacional, sr. Mohammed Ouhmad Sbitri

Presidente do COI, Mohammed Ouhmad Sbitri, durante entrevista na sede da entidade.

Presidente do COI, Mohammed Ouhmad Sbitri, durante entrevista na sede da entidade.

PRODUÇÃO DE AZEITONA SE EXPANDE PARA NOVAS ÁREAS

Entrevista realizada em julho e setembro de 2009

O universo do azeite de oliva e das azeitonas de mesa é vastíssimo. Vários países ao redor do mundo participam deste setor, que movimenta importantes parcelas de suas economias e influencia a cultura de seus povos.
Neste contexto, o Conselho Oleícola Internacional (COI) se ocupa de apoiar o fomento da produção e da comercialização do azeite de oliva e das azeitonas de mesa e de promover seu consumo e a cultura oleícola e olivareira.

Atualmente o COI, que é uma instituição intergovernamental, conta com 17 membros, entre eles os principais países produtores e importadores mundiais de azeite de oliva e azeitonas de mesa. Os membros atuais, junto com os países que estão em vias de adesão, representam mais de 98% da produção mundial de azeite de oliva e das azeitonas de mesa.

A sede desta instituição, que foi criada sob os auspícios da ONU, está localizada em Madri, capital da Espanha, primeiro produtor e exportador mundial de azeite de oliva e de azeitonas de mesa. Foi ali onde o diretor executivo do COI, o marroquino Mohammed Ouhmad Sbitri, nos recebeu para falar da atuação deste organismo.

1.Qual é a atual preocupação do COI em relação à olivicultura mundial?

Entre as várias preocupações que o COI tem em relação à olivicultura mundial, destacamos três. Primeiro, que a oferta e a demanda tenham equilíbrio. Cada ano a superfície cultivada cresce cerca de 2%, o que representa 140 mil hectares novos. Frente a este crescimento, o COI busca novos mercados, sem deixar de trabalhar para manter os níveis de consumo nos países produtores. Em relação aos novos mercados, realizamos atualmente um trabalho de promoção do azeite de oliva na Índia, que está refletindo em um incremento do consumo. No próximo ano, dirigiremos a promoção à China, Rússia, Estados Unidos (maior importador mundial de azeite de oliva) e Canadá e, posteriormente, trabalharemos com Brasil. Estas ações de promoção representam um investimento de 2,5 milhões de euros todos os anos. Em segundo lugar, mas não menos importante, está o cuidado com a qualidade. O COI, como órgão regulador, se ocupa de que os azeites de oliva respeitem os níveis técnicos e que sigam as normas de qualidade. Por isso, insistimos em que o Brasil respeite as normas estândar – CODEX, ISO e EU. A terceira preocupação é a formação profissional que permita garantir um conhecimento bom e qualificado para trabalhar desde o olivar até a extração de azeite ou a elaboração das azeitonas de mesa. Somente para citar uma das ações a este respeito, lhe direi que temos convênios com algumas universidades para formar catadores – os profissionais capacitados para realizar a análise sensorial dos azeites e determinar suas características -, assim como vários projetos de pesquisa e desenvolvimento em matéria de olivicultura.

2.Quais são os fatores objetivos mais importantes que atualmente pautam os países olivicultores?

Observamos um câmbio na forma de produção olivareira, que passa de um modo tradicional (poucas árvores por hectare, nenhum sistema de irrigação, colheita manual, parcelas de dimensão reduzida) a um mais moderno e intensivo, que permite uma maior produtividade por hectare (sistemas modernos de irrigação, fertilização controlada, luta integrada contra as doenças e parasitas da oliveira, racionalização da poda, marcos de plantação reduzidos, colheita mecanizada, maior concentração de parcelas, etc.). Os países apostam também pela qualidade dos produtos e pela modernização dos sistemas de extração do azeite.

3.A produção oleícola congrega em si tanto o setor primário – agricultura -, como o secundário – indústria – e o terciário – serviços, turismo, etc. Quanto gera esta produção atualmente em todo o mundo?

O COI se ocupa exclusivamente do azeite de oliva e das azeitonas de mesa, mas existem muitas atividades em torno da oliveira: produção de cosméticos, utilização dos subprodutos da oliveira como fertilizantes ou fontes de energia. Somente no que se refere à produção de azeite de oliva, o volume de negócios poderia alcançar cerca de 10 bilhões de euros ao ano.

4.Como a crise econômica afeta o setor oleícola?

A crise econômica joga um papel importante, principalmente na Espanha. Os bancos não querem dar créditos, os agricultores necessitam liquidez e o produto é vendido a preços muito baixos. Os supermercados, que concentram a maior parte da demanda, estão baixando muito os preços do litro de azeite. Ao mesmo tempo, a oferta está bastante dividida. Nota-se agora que os produtores se agrupam em cooperativas para conseguir um maior peso no mercado. O ano de 2009 foi caracterizado por uma queda tremenda nos preços, chegando a 1,70 euros na saída dos moinhos. Para poder fazer uma comparação, em 2005 os preços alcançaram o dobro e, às vezes, até um pouco mais.
Este tipo de situações excepcionais acarreta uns efeitos adversos importantes, já que o consumidor pode deixar de comprar azeite de oliva e começar a consumir azeites de sementes (soja, milho, girassol,…) que têm preços mais baixos. Apesar de tudo isso, não creio que este ano o setor esteja muito afetado. Estamos observando uma melhora da situação nestas últimas semanas, com uns preços que finalmente subiram aos 2,40 euros por quilo.

5.Que influências tem o câmbio climático na olivicultura? E na qualidade dos azeites?

A oliveira é uma árvore muito rústica, caracterizada por uma grande capacidade de resistência, que não tem necessidade de muita água. Mas se não tomamos decisões firmes em nível mundial para frear o câmbio climático, ao final a oliveira também sofrerá as conseqüências. A este respeito, organizamos em novembro deste ano, em Madri, um importante seminário internacional dedicado ao tema “Olivicultura e Meio Ambiente”.

6.Quais são as últimas novidades no campo da olivicultura e do azeite que chegaram para ficar?

No atual contexto, as práticas de cultivo no pomar de oliveiras devem ser encaminhadas a obter uma elevada rentabilidade e produções de qualidade, tanto em nível organoléptico como sanitário, mas ao mesmo tempo devem ser sustentáveis desde o ponto de vista ambiental. Estas três condições são a base de uma atividade agrária que há de cobrir as necessidades em alimentos sem comprometer o futuro das próximas gerações.
Os centros de investigação e as universidades que trabalham no setor da oliveira buscam continuamente soluções para uma olivicultura moderna, rentável e compatível com o meio ambiente, quer dizer, uma olivicultura sustentável.
Os esforços dos pesquisadores se focaram, entre outras coisas, nos diferentes aspectos agronômicos, tal como a racionalização da fertilização e da utilização de água, a implementação de novas técnicas de plantação, a melhora da eficácia da poda, a realização de um manejo idôneo do solo e, com certeza, a redução dos custos através da colheita mecanizada.

Devido à crescente demanda de material vegetal nos novos países produtores (Argentina, Austrália, Nova Zelândia,…), assim como os ambiciosos planos de desenvolvimento do setor dos países da Bacia do Mediterrâneo e do Oriente Próximo, os esforços se centram também na melhora das técnicas de propagação da oliveira. Uma técnica nova e que no futuro se utilizará cada vez mais é a técnica da micropropagação. As vantagens são evidentes: de fato se podem obter mais plantas num espaço muito mais reduzido e as plantas têm as mesmas características genéticas que as chamadas plantas “mãe”.
O COI publica regularmente manuais práticos e guias técnicos que recolhem as últimas tendências em olivicultura. Ultimamente editamos um “Guia de técnicas de producción em olivicultura” (que está para livre consulta em nossa página web www.internationaloliveoil.org), um livro muito completo sobre as técnicas de produção de mudas de oliveira em viveiros, um guia de cultivo nos meio ambientes frágeis e muitos mais livros de interesse para todos aqueles que se interessam por esse cultivo e seus produtos.

Um último aspecto que deve ser tomado em conta no que se refere às novidades no campo da olivicultura são os trabalhos e os estudos realizados nesses últimos anos para o conhecimento, a caracterização e a conservação das variedades de oliveira. Neste aspecto, o COI desenvolveu um projeto em 17 países membros e criou dois bancos mundiais de germoplasma, onde uma grande parte do patrimônio genético da espécie Olea europaea está conservada e estudada. Também encontrarão informação de interesse sobre os projetos de pesquisa e desenvolvimento levados a cabo pelo COI em nossa página web.

7.Quais são as tendências que o segmento aponta para os próximos anos?

As superfícies cultivadas e a produção tanto de azeitonas de mesa como de azeite de oliva estão em alta. Esta tendência deve-se a vários fatores: em primeiro lugar, a melhora das técnicas de produção, que permite aumentar a rentabilidade das plantações e melhorar a qualidade da produção. Em segundo lugar, convém destacar o aumento das superfícies cultivadas com a realização de plantações novas, não somente nos países tradicionalmente produtores, mas também em novas zonas do mundo (China, Austrália, Chile, Uruguai, Argentina, etc.). Algumas destas plantações já estão em produção, outras ainda não.


8.O Brasil é um importante mercado consumidor de azeite de oliva e de azeitonas de mesa, mas o brasileiro médio não sabe distinguir entre azeites de boa e má qualidade, problema que também se nota em outros países. Que planos o COI tem para os grandes mercados consumidores?

Brasil é um mercado em expansão. Importa cada vez mais azeitonas de mesa e azeite de oliva de países como Argentina, Espanha ou Portugal. É certo que é freqüente que os consumidores não saibam diferenciar os azeites bons dos de menor qualidade. É por isso que o COI apóia a promoção genérica no âmbito internacional do azeite de oliva, colaborando em campanhas nacionais, públicas e privadas, controlando a qualidade das campanhas, organizando e participando de eventos informativos e promocionais sobre o azeite de oliva e as azeitonas de mesa, preparando e/ou encomendando estudos de mercado, assistindo a feiras e eventos organizados pelo setor oleícola, produzindo material informativo e difundindo os resultados da investigação científica sobre as propriedades do azeite de oliva para a saúde. Realiza importantes campanhas de promoção destinadas a melhorar os conhecimentos sobre estes produtos e sobre as vantagens de seu consumo para a saúde. O COI programou em seu próximo plano trienal de atividades de promoção uma grande campanha de informação no Brasil.

9.Como os poderes públicos brasileiros podem orientar a legislação para estar em concordância com os preceitos do COI?

Exigindo o cumprimento da Norma Comercial do COI para azeite de oliva e azeite de bagaço de oliva*. Isto permitirá favorecer os intercâmbios comerciais, prevenir as fraudes, melhorar a qualidade dos produtos e proteger o consumidor. É imprescindível a colaboração das autoridades para lutar contra a fraude. A este respeito, no marco de seu programa de controle da qualidade dos azeites de oliva e dos azeites de bagaço* comercializados nos mercados de importação, o COI recolhe vasilhames de venda ao público das marcas de azeite de oliva e azeite de bagaço* presentes no mercado brasileiro. Estes azeites são enviados a um laboratório reconhecido pelo COI que faz a análise físico-química, com o objetivo de averiguar sua conformidade ou não do azeite com sua denominação ou as irregularidades encontradas. Este programa permite detectar as fraudes por parte não só dos importadores, mas também nos países de origem.

* (azeite de orujo em espanhol e de samsa em italiano)

10.Como o Brasil pode ingressar no COI?

Para que um Estado possa ser membro do COI, é necessário que seu governo – através de seu Ministério de Relações Exteriores, por exemplo – manifeste primeiro seu desejo de assistir a uma sessão do COI na qualidade de observador. Qualquer Estado pode aderir ao Convênio Internacional do Azeite de Oliva e das Azeitonas de Mesa de 2005 nas condições que determine o Conselho Oleícola Internacional através do Conselho dos Membros, que incluirão um número de quotas de participação e um prazo para o depósito dos instrumentos de adesão em poder do depositário – o governo da Espanha.

11.Qual o seu conselho para um país que está iniciando na olivicultura?

A introdução da olivicultura em zonas novas tem que obedecer a algumas condições concretas para evitar futuros riscos que poderiam comprometer o êxito dos investimentos. Mais de 98% do patrimônio oleícola mundial está situado na Bacia do Mediterrâneo, onde o clima está caracterizado por uns invernos relativamente suaves e uns verões secos e quentes. As zonas que pertencem a este tipo de clima estão situadas entre os paralelos 30º e 45º nos dois hemisférios. Portanto, como todos os cultivos, também a oliveira está influenciada não somente pelas características do solo, mas também pelo período térmico e o fotoperíodo, assim como pelas precipitações – sua distribuição e sua freqüência ao largo do ano. Estes parâmetros são fundamentais para que a planta possa desenvolver-se e, sobretudo, para que possa produzir.
Na hora de fazer uma plantação, a eleição varietal é de grande importância, e se esta prioridade já é válida nas zonas onde o cultivo de oliveiras está bem desenvolvido, com maior razão naquelas onde a oliveira ainda não foi introduzida.
A isto, juntaria a importância de eleger de modo adequado os polinizadores, sendo este último elemento tão importante como a eleição da própria variedade.

Dados gerais sobre o COI

Membros:

Os países fundadores do Conselho Oleícola Internacional foram: Bélgica, Espanha, França, Grécia, Itália, Portugal, Reino Unido, Israel, Líbia, Marrocos e Tunísia. A estes se agregaram os demais países da Comunidade Européia – que figura, em seu conjunto, como um só membro -, Argélia, Croácia, Egito, Iraque, Irã, Jordânia, Líbano, Montenegro, Sérvia, Síria, Albânia e Argentina. Argentina ingressou no COI recentemente, no dia 8 de maio de 2009, e é o primeiro país latino-americano que integra a lista dos estados-membros do Conselho Oleícola Internacional.

Funções:

O COI contribui para o desenvolvimento responsável e sustentável do olivar e constitui um fórum mundial onde se debatem as políticas a adotar e se abordam os desafios que o setor enfrenta. Seus principais objetivos são:  
Promover a cooperação técnica internacional no marco dos projetos de pesquisa e desenvolvimento e de atividades de formação e transferência de tecnologia.
Fomentar a expansão do comércio internacional do azeite de oliva e das azeitonas de mesa, estabelecer ou atualizar normas comerciais aplicáveis aos produtos do olivar e melhorar a qualidade dos mesmos.
Minimizar o impacto ambiental do olivar e da indústria olivareira.
Promover o consumo do azeite de oliva e das azeitonas de mesa através de planos de ação e campanhas inovadoras de promoção.
Difundir informações e estatísticas claras e precisas sobre o mercado mundial de azeite de oliva e das azeitonas de mesa.
Organizar encontros periódicos entre representantes institucionais e expertos para abordar os problemas do setor e determinar as ações prioritárias do COI.
Trabalhar em estreita colaboração com os profissionais do setor.

Fonte: site oficial do Conselho Oleícola Internacional (www.internationaloliveoil.org)

Autora:
Deise Nascimento Nunes, jornalista, 2ª secretária da ARGOS

Foto: Gonzalo Durán

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